De olho no turismo, Haiti luta contra sua reputação violenta

Port Au Prince, Haiti – Sequestros, violência de gangues, tráfico de drogas, polícia corrupta, bloqueios de estradas em chamas.

Os relatos do país mais pobre do Hemisfério Ocidental são suficientes para afastar o viajante mais aventureiro.

Port Au Prince, Haiti – Sequestros, violência de gangues, tráfico de drogas, polícia corrupta, bloqueios de estradas em chamas.

Os relatos do país mais pobre do Hemisfério Ocidental são suficientes para afastar o viajante mais aventureiro.

Mas, de acordo com especialistas em segurança e funcionários da missão de paz das Nações Unidas em Porto Príncipe, o Haiti não é mais violento do que qualquer outro país da América Latina.

“É um grande mito”, diz Fred Blaise, porta-voz da força policial da ONU no Haiti. “Port-au-Prince não é mais perigosa do que qualquer grande cidade. Você pode ir para Nova York e ser roubado e mantido sob a mira de uma arma. O mesmo vale para cidades no México ou no Brasil.”

A imagem negativa do Haiti devastou sua economia, cuja outrora florescente indústria do turismo está agora limitada em grande parte a trabalhadores humanitários, forças de paz e diplomatas.

Mas dados da ONU indicam que o país pode estar entre os mais seguros da região.

De acordo com a missão de paz da ONU, houve 487 homicídios no Haiti no ano passado, ou cerca de 5.6 por 100,000 pessoas. Um estudo conjunto ONU-Banco Mundial de 2007 estimou a taxa média de homicídios no Caribe em 30 por 100,000, com a Jamaica registrando quase nove vezes mais assassinatos – 49 homicídios por 100,000 pessoas – do que os registrados pela ONU no Haiti.

Em 2006, a República Dominicana registrou mais de quatro vezes mais homicídios per capita do que o Haiti – 23.6 por 100,000, de acordo com o Observatório Centro-Americano sobre Violência.

“Não há muita violência [no Haiti]”, argumenta o general José Elito Carvalho Siqueira, ex-comandante brasileiro da força da ONU no Haiti. “Se você comparar os níveis de pobreza aqui com os de São Paulo ou de outras cidades, há mais violência lá.”

A missão de paz da ONU, conhecida como Minustah, chegou em junho de 2004, três meses depois que as tropas americanas levaram o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide para o exílio na África em meio a uma rebelião armada.

O governo interino de fato, apoiado pela ONU, Estados Unidos, França e Canadá, lançou uma campanha repressiva contra os partidários de Aristide, desencadeando dois anos de tiroteios nas favelas de Porto Príncipe entre gangues, polícia haitiana e forças de paz da ONU.

Enquanto isso, uma onda de sequestros aumentou as tensões, com a Minustah registrando 1,356 em 2005 e 2006.

“Os sequestros chocaram a todos porque não tinham acontecido no passado”, diz Blaise. “Ainda assim, quando você compara o número de sequestros aqui, não acho que seja mais do que em qualquer outro lugar.”

No ano passado, a segurança melhorou acentuadamente, pois o número de seqüestros caiu quase 70%, parte de uma melhoria geral na segurança sob o governo do presidente René Préval, eleito em fevereiro de 2006. Mas no início deste mês, milhares de manifestantes tomaram as ruas em Port-au-Prince para protestar contra o aumento dos sequestros. Pelo menos 160 pessoas foram sequestradas este ano, de acordo com a polícia haitiana e da ONU, relata a Reuters. Em todo o ano de 2007, 237 pessoas foram sequestradas, segundo o relatório.

E em abril, milhares de pessoas saíram às ruas para exigir preços mais baixos de alimentos, enviando imagens de pneus queimados e manifestantes atirando pedras em todo o mundo.

Ainda assim, tiros raramente são ouvidos em Porto Príncipe, e os ataques a estrangeiros são poucos. Nos últimos meses, os voos da American Airlines de Miami ficaram lotados de missionários cristãos.

Alguns observadores dizem que mesmo quando a instabilidade era pior, a violência geralmente se limitava a algumas favelas de Porto Príncipe.

“Se você comparar o Haiti com o Iraque, com o Afeganistão, com Ruanda, nem aparecemos na mesma escala”, diz Patrick Elie, ex-secretário de Defesa que chefia uma comissão do governo sobre a possível criação de uma nova força de segurança.

“Tivemos uma história tumultuada, caracterizada pela instabilidade política”, diz Elie. “Mas, exceto pela guerra que tivemos que travar para obter nossa liberdade e independência dos franceses, o Haiti nunca conheceu um nível de violência comparável ao que foi travado na Europa, na América e nos países europeus da África e Ásia. .”

O Viva Rio, um grupo brasileiro de redução da violência que veio ao Haiti a pedido da ONU, conseguiu em março de 2007 convencer gangues beligerantes em Bel Air e favelas vizinhas do centro a se abster da violência em troca de bolsas de estudo para jovens. “Isso seria impensável no Rio”, diz Rubem Cesar Fernandes, diretor do Viva Rio.

Ao contrário do Brasil, diz ele, as gangues de favelas do Haiti têm pouco envolvimento com o tráfico de drogas. “Neste momento, no Haiti, há mais interesse pela paz do que pela guerra”, diz ele. “[Existe] esse preconceito que associa o Haiti ao perigo, sobretudo ao que parece, nos Estados Unidos. O Haiti parece provocar medo nos norte-americanos brancos”.

Katherine Smith é uma americana que não tem medo. O jovem etnógrafo vem aqui desde 1999 para pesquisar vodu e viaja para bairros pobres usando transporte público.

“O pior que aconteceu foi ser assaltado durante o Carnaval, mas isso pode acontecer em qualquer lugar”, disse a Sra. Smith. “O quão pouco eu fui alvo é notável, dado o quão visível eu sou.”

Mas muitos trabalhadores humanitários, diplomatas e outros estrangeiros vivem atrás de muros e arame farpado.

E com exceção dos emigrantes que vêm do exterior, o turismo é quase inexistente. “É tão frustrante”, diz Jacqui Labrom, uma ex-missionária que organiza visitas guiadas ao Haiti desde 1997.

Ela diz que as manifestações de rua são facilmente evitadas e raramente resultam em violência. “Nos anos 50 e 60, o Haiti ensinou Cuba, Jamaica, República Dominicana a fazer turismo…. Se não tivéssemos uma imprensa tão ruim, faria tanta diferença.”

csmonitor.com

Sobre o autor

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Linda Hohnholz

Editor-chefe para eTurboNews baseado no eTN HQ.

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